sábado, 25 de junho de 2011

Pessoas Com Deficiência: Aspectos Psicológicos, Intervenções Clínicas, Dificuldades e Possibilidades Profissionais

Professor Emílio Figueira
Embora minha intenção seja abordar neste artigo pontos, comportamentos e aspectos psicológicos de quem nasce ou adquire algum tipo de deficiência ao longo da vida, é preciso acentuar, logo de início, o grande erro em pensar na existência de técnicas especiais para atendimento psicológico de pessoas com deficiência. O que podemos dizer é que, dependendo da deficiência, poderá haver peculiaridades relacionadas à sua condição orgânica e, sendo congênita, física ou mental, ter implicações no desenvolvimento ou ajustamento da criança que, segundo Amiralian (1997, p. 35), “já ao nascer, apresenta uma condição orgânica diferente e que, portanto, vai constituir-se como pessoa a partir de uma estrutura orgânica peculiar”. Enquanto psicólogos dispostos a atuar nesta área, é fundamental o conhecimento das implicações geradas pela “perda orgânica para a dinâmica de personalidade e ajustamento pessoal e social daqueles que, por diferentes razões, vieram adquirir uma deficiência. Esses conhecimentos pressupõem a compreensão das limitações fundamentais impostas pelas deficiências e a compreensão das limitações das condições afetivo-emocionais que as acompanham”.
Nunca é demais lembrar que estamos falando de pessoas. E pessoas não são todas iguais. Assim como as que têm algum tipo de limitação não são todas iguais, não formam um grupo homogêneo. Do mesmo modo, a Psicologia não é uma ciência exata. Portanto, toda afirmativa pode ser perigosa, correndo o risco das generalizações, ou seja, cada caso é um caso!(grifo nosso)

A minha amiga professora Lígia Assumpção Amaral acentuava que muitos profissionais têm dificuldades em trabalhar com pessoas com deficiência. Isto porque, independente de sua formação profissional, são pessoas. E, como a maioria da população, trazem no inconsciente coletivo mitos, “pré-conceitos” e mecanismo de defesa com relação às pessoas com deficiência. Nem todos que se formam em Psicologia estão prontos ou desejam construir uma relação profissional-cliente com esse grupo.

Ter uma deficiência interfere tanto na pessoa que a possui (no desenvolvimento, aprendizagem, personalidade, relações familiares e sociais, aspectos estruturais ou funcionais), quanto no profissional que a atende. Na pessoa com deficiência essa intervenção está ligada a inúmeros fatores, tais como: tipo de deficiência, intensidade, extensão, época de sua incidência. Olhando o seu histórico, leva-se em consideração as oportunidades de desenvolvimento e ajustamento que foram oferecidas ou negadas ao paciente.

Com relação aos profissionais que têm dificuldades de atender e se relacionar com essa classe de pessoas, essa convivência pode levar-lhes a aflorar suas próprias limitações ou suas “deficiências” – num desabar de falsas sensações de onipotência. Por isto, a negação torna-se um mecanismo de defesa para o não atendimento. Amiralian (1997, p. 34), citando Fedidá, acentua que para muitos – e os profissionais de psicologia não estão isento disto -, “a deficiência é intolerável, não só por fazer ressurgir insuportáveis angústias de castração, destruição e desmoronamento, mas também por lembrar que o deficiente é sempre um sobrevivente que escapou de um cataclismo, de uma catástrofe que já ocorreu, o que poderá acontecer a qualquer um. (...) Como um espelho perturbador, pode fazer reviver angústias primitivas”.

Por outro lado, segundo Amaral, (1991, p. 19), “no exercício de suas funções dois “mundos diferentes” se encontram. (...) Alertados, conscientizados e, ao mesmo tempo, respaldados por esse saber recém-construído, muitos profissionais têm podido re-ver, re-pensar e re-fazer sua prática, tanto do ponto de vista técnico como das relações interpessoais”.

Por meio de experiências pessoais de suas significações de deficiências, o psicólogo estará apto a rever suas emoções, afetos, aprender com suas negações, sendo capaz de “conquistar a percepção da deficiência como um objeto compartilhado e de proporcionar ao nosso cliente um ambiente acolhedor e condições facilitadoras para sua aceitação dessa condição, favorecendo e possibilitando seu próprio desenvolvimento” (Amiralian 1997, p. 34).

Após toda a avaliação psicológica e fechamento do diagnóstico, é necessário avaliarmos realisticamente os nossos limites enquanto psicoterapeutas. Já nos chegaram notícias de colegas que atenderam casos além de seus níveis de habilidades e conhecimentos sobre questões que envolvem pessoas com deficiência. E o prejuízo foi ainda mais para o paciente.


Aspectos iniciais das deficiências adquiridas

Tanto os acidentes automobilísticos ou em ambientes de trabalho, mas principalmente as armas de fogo como outros motivos, têm sido as principais causas de aquisição de deficiência permanente no Brasil. Essas vítimas poderão passar por vários estágios iniciais assim estabelecidos:

CHOQUE: Quando elas realmente não captam o que está acontecendo, ou seja, que agora ela tem uma deficiência e, com isto, ainda não há sinais de ansiedade.

LUTO: Perda da motivação de conviver com essa realidade.

NEGAÇÃO: Fruto de uma carga de cobrança. É quando a pessoa que adquiriu uma deficiência sente o status de desvalorização da sociedade. Uma sensação de impotência pessoal e profissional que geram estados de autodesvalorização, sentimentos de segregação ou opressão. À medida que a pessoa seja capaz de rompê-los, liberta-se da falsa “proteção” gerada pelo mecanismo de defesa da negação.

RAIVA: Um estado importante de ser manifestado durante a percepção da dimensão de sua perda, permitindo ao sujeito uma “válvula de escape”. Às vezes, essa raiva é projetada no médico, na equipe de enfermeiras, nos familiares, podendo comprometer ou não o processo de reabilitação.

DEPRESSÃO: Pode resultar na diminuição de motivação, refletindo nos tratamentos e atividades.

DEFESA: Gera hostilidade, sendo que algumas pessoas podem permanecer nesse estágio indefinidamente, enquanto outras, numa defesa considerada saudável, somam esforços para enfrentar e buscar sua normalização tão normal quanto possível, reconhecendo as barreiras e buscando alternativas para contorná-las.

EXPECTATIVA DE RECUPERAÇÃO: Ao notar agora que uma nova realidade a cerca, surge a preocupação com a melhora de sua deficiência.

AJUSTAMENTO: Quando a pessoa deixa de considerar suas deficiências como algo que tenha que lutar, não mais como uma barreira intransponível, procurando formas de satisfazer suas necessidades e ser uma pessoa inclusa na sociedade.
          
Segundo Vash (1988, p. 14), há três níveis de reconhecimentos em quem adquire uma deficiência:


Nível 1: Reconhecimento dos Fatos - A pessoa entende a natureza e a extensão das limitações, a probabilidade de permanência e as realidades da estigmatização social, mas detesta cada parcela disso. A deficiência é vista como tragédia e tem valência negativa.

Nível 2: Aceitação das Implicações - A pessoa tem conhecimento das realidades de suas condições sem um sentido de perda e demonstra aceitação do que é sem recriminação. Os fatos e as implicações da deficiência estão interados num estilo de vida escolhido. A deficiência é vista como um inconveniente que pode ser controlado e tem valência neutra.


Nível 3: Acolhida da Experiência - A pessoa reconhece que sem a deficiência seria diferente do que é e não tem vontade de ser diferente. Existe a valorização do fato de que a deficiência foi, é, e continuará sendo um catalisador do crescimento, desde que lhe seja permitido sê-lo. A deficiência, como todas as outras experiências de vida, é vista como uma oportunidade ou dom, e tendo valência positiva.


Esses conhecimentos básicos são fundamentais para o início de nossa atividade de intervenção. Para não corrermos certos riscos, não podemos considerar algumas dificuldades ou problemas, manifestados pela pessoa com deficiência, como decorrentes da deficiência em si, e sim encará-las como decorrentes de condições ambientais insatisfatórias ou de perturbações em interações precoces. Nossa intervenção enquanto psicólogos deverá ser em amenizar as consequências das deficiências secundarias, não considerando as dificuldades pessoais como um impedimento para a pessoa ter comportamentos mais independentes ou produtivos devido ao seu problema orgânico. 


Separe as dificuldades apresentadas pelo paciente e as limitações realmente impostas pela deficiência, observando se são decorrentes de outros fatores dificultantes de sua atuação. “A deficiência não deve ser considerada como a causa de manifestação de perturbações psíquicas, mas como uma condição dificultadora para as interações com o ambiente”, segundo Amiralian (1997, p. 35).


Hoje, com tantos avanços sociais, legislativos, tecnológicos na engenharia da reabilitação e na medicina, há exemplo de terapias com células-troncos, em que muitas pessoas com deficiência adquiridas ou não, estão cada vez conquistando autonomia, superando suas próprias expectativas, transcendendo-se. Caberá a nós, enquanto psicólogos, estimular essa transcendência, conduzindo a pessoa admitir, em primeiro lugar, sua deficiência no reconhecimento dos fatos, aceitação das implicações e acolhida da experiência.


*Emilio Figueira Jornalista, psicólogo, pós-graduado em Educação Inclusiva e doutorado em Psicanálise. Autor de mais de quarenta artigos científicos nesta área e de vinte livros, dentre os quais destaca-se “Caminhando em Silêncio – Uma introdução à trajetória da pessoa com deficiência na história do Brasil”.

quinta-feira, 23 de junho de 2011

Para aonde vão os deficientes físicos?



Atuando como conselheiro da Casa Menino Jesus de Praga e da Kinder Centro de Integração da Criança Especial constato um grave problema social que se avoluma com o decorrer do tempo, ou seja, a partir da maioridade os portadores de deficiência física – tetraplegia, paraplegia ou hemiplegia - não possuem mais nenhuma possibilidade de assistência que deveria ser garantida pela Nação. Conforme consta na Constituição tida como redentora pelos políticos da época no capítulo II – Dos Direitos Sociais - art. 6º, que diz o seguinte: São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta Constituição.


Estes portadores de deficiência com a maioridade não possuem nenhuma possibilidade de recuperação, embora sua vida seja prolongada através dos tratamentos e das melhorias de saúde ocorridos na menoridade. O envelhecimento ou o falecimento dos seus pais ou parentes que lhes cuidam os deixam na rua da amargura. Existe no Senado um projeto que tramita há longo tempo, que tenta minimizar estes problemas, mas que não se sabe quando será aprovado e realmente cumprido. Segundo tese da assistente social da Kinder Luciane Cordeiro, o Brasil possui os seguintes portadores de deficiência: deficiência física, 4,1%; deficiência motora, 22,9%; deficiência mental permanente, 8,3%; deficiência auditiva, 16,7%; e deficiência visual 48,1%. Segundo dados do Censo de 2000 do IBGE, o Brasil possui 937.463 deficientes físicos, o Rio Grande do Sul 51.453 e Porto Alegre, 7.041. Também devemos considerar os deficientes mentais permanentes no Brasil, que atingem a 2.844.937, no Estado, 170.133, e em Porto Alegre, 21.649. O total de deficientes entre os que possuem deficiência motora (incapaz), deficiência auditiva, deficiência visual, deficiência mental permanente e deficiência física chega a 24.600.256 de brasileiros. Estes dados obrigam a sociedade cobrar de nossos governantes políticas públicas que efetivamente atinjam estes necessitados. O Brasil, visando a uma cadeira na ONU, assinou em Nova Iorque, no dia 30 de março de 2007, o texto da Convenção dos Direitos das Pessoas com Deficiência. Está na hora de os nossos governantes pensarem mais na população brasileira no que nas suas vaidades pessoais. Está na hora de saber para aonde vão os deficientes físicos.

Humberto Ruga
Conselheiro da Kinder e da Casa Menino Jesus de Praga
http://jcrs.uol.com.br/site/noticia.php?codn=65387

ABAIXO-ASSINADO

Meu Amigo,


Acabei de ler e assinar este abaixo-assinado online:

«De Cidadãos em Apoio às PECs do Diploma de Jornalista»
http://www.peticaopublica.com.br/?pi=P2011N8603

Eu concordo com este abaixo-assinado e acho que também concordarás. Assine o abaixo-assinado e divulgue-o por teus contatos.

Obrigado.
CELL MIRANDA


Manche automotivo permite guiar carro com uma só mão

Redação do Site Inovação Tecnológica - 20/06/2011

O manche para carros elimina toda a concepção mecânica, aplicando tecnologias
baseadas na eletrônica, que oferece soluções mais versáteis

Engenheiros espanhóis desenvolveram uma espécie de manche para carros, permitindo que o veículo seja inteiramente guiado com apenas uma mão, incluindo direção, marchas e toda a sinalização.

Tecnologia inclusiva
A equipe da Universidade de Navarra inspirou-se em veículos-conceito apresentados há alguns anos, que substituíam os volantes por joysticks.
Mas isso não era suficiente, uma vez que o objetivo da pesquisa é permitir que os veículos sejam conduzidos, com apenas uma mão, por pessoas com mobilidade reduzida, tanto dos membros inferiores quanto superiores.
O resultado é bem diferente de umjoystick, trabalhando na horizontal, o que faz o dispositivo lembrar mais a manopla de uma motocicleta.
"Ao projetarmos o novo sistema, eliminamos do nosso conceito toda a tecnologia de concepção mecânica, aplicando tecnologias baseadas na eletrônica, que oferece soluções mais versáteis," disse o Dr. José Solaz, coordenador da pesquisa, referindo-se ao conceito conhecido como drive by wire, em que todos os controles do veículo são eletrônicos.

Manche para carros
Depois de analisar todas as opções disponíveis no mercado, incluindo carros-conceito e veículos elétricos, a equipe desenvolveu um dispositivo ergonômico mais próximo de um manche de helicóptero, contendo todas as funções.
Uma das melhorias foi alcançada com adição de motores que fornecem um feedback ao motorista, dando-lhe sensações idênticas às de uma volante tradicional.
Outra característica do novo dispositivo é um sistema que foi adicionado para imitar as percepções tradicionais do ato de dirigir, para que os motoristas possam obter as mesmas informações que a transmissão mecânica de um veículo proporciona.

Gosto ou necessidade
O sistema mostrou-se acessível a um grande número de motoristas com problemas de mobilidade e controle motor.
José Solaz destacou "a ergonomia do protótipo e o fato de que ele leva em conta os limites de força e capacidade de coordenação dos usuários."
Para o pesquisador, "estes aspectos são essenciais para que um conceito inovador seja visto como conveniente, fácil de usar e tão seguro quanto os controles tradicionais."
Pessoas com deficiência nos membros inferiores serão os maiores beneficiados com o manche automotivo, mas o protótipo é adequado para todos os tipos de pessoas, o que significa que ele poderá vir a ser adotado por uma questão de conveniência, e não apenas de necessidade.

Fonte: Site Inovação Tecnológica- www.inovacaotecnologica.com.br URL: http://www.inovacaotecnologica.com.br/noticias/noticia.php?artigo=manche-automotivo-guiar-carro-mao